quando recebi sua mensagem dizendo “saudade” foi como um soco no peito que me impediu de respirar por alguns segundos. tantos sentimentos me inundaram de uma vez só que eles encheram meus olhos. mil pensamentos e cenários na minha cabeça.
“sim, eu também senti, sinto todos os dias, sonho com você todas as noites”
“por favor me diga que é verdade, diga que não está jogando, que sente minha falta como sinto a sua”
“não, você não sente, se sentisse não teria me ferido e me deixado”
“sim, você sente saudade de alguém para costurar suas feridas, não importa o quanto isso me machuque”
“não, você apenas quer saber que ainda me domina, quer vir remarcar seu território, mas nunca me amará”
tudo isso e muito mais enchendo meu peito, minha cabeça e meus olhos. as frágeis estruturas que construí depois de você se abalaram, ameaçando ruir.
tenho vergonha disso, mas não o suficiente. sei que não devemos nos culpar por amar. mas também sei - aprendi- que você, de fato, não me ama. seu retorno é mais uma prova disso, mais uma ferida que você me causa.
você volta, mas não me quer. você volta sem se responsabilizar, sem compromisso. você volta para ouvir como eu te amo, sem me dar nada em troca. quer me manter como um segredo seguro, um lugar pra onde ir quando se cansar de onde - com quem - está agora. você me promete algo a que esperar que nunca chega.
você me pede para me rebaixar a esse lugar mais uma vez, o faz como se fosse um belo convite. já fez antes e eu caí em sua armadilha, esperando desejosa que você finalmente se resolvesse, que me escolhesse 100%, ao invés de só um pedaço.
agora eu sei mais. você não é capaz de dar 100%, não é capaz de conexões profundas, de mergulhar por inteiro. nunca foi, nunca quis ser e provavelmente nunca será.
como uma praga de gafanhotos famintos se atraiu para um jardim repleto de flores, totalmente desprotegido, porque eu dei tudo a você com prazer, antes mesmo que pedisse. se alimentou e devorou até ficar saciado, até não sobrar nada além de restos do que um dia eu fui. então você saiu de fininho, pela portas do fundos, para que quando eu descobrisse você já tivesse partido. você já tinha outro jardim também. ah, sim. um bem atraente e repleto de flores como o meu costumava ser, você começou a visitá-lo antes de me deixar, porque você não gosta de perder. apenas trocar.
mas a natureza sempre se renova, com as pragas longe, as sementes começam a crescer devagar. seu novo jardim já não te sacia e você já me observa de longe, como um experiente predador, pronto para voltar para aonde era bem saciado.
não importa que mais uma vez você vai acabar com tudo. que as flores serão devoradas e mortas de novo. você não se importa com o meu jardim, se importa apenas consigo mesmo. você não gosta de ficar sem nada, já está se preparando para trocar, pra achar uma nova fonte de amor, de vida.
que lugar melhor do que aquele que você já sabe qualidade? além do mais, reforçaria o quanto você é adorado não é? o quanto é onipotente, se eu te perdoar mais uma vez.
é horrível pensar assim, dói quase tanto quanto doeu quando você me tirou meu chão, meu céu, me tirou nosso amor e muitas verdades.
dói porque te amei como nunca amei ninguém e arrisco dizer que nunca conseguirei ter raiva. escrevo tudo isso com uma tristeza dilacerante, um peso no estômago e uma lucidez não muito confiável.
mas sem raiva, nada de raiva. espero um dia ter, mas ainda não sei se terei. você é o retrato de tudo que me doeu, que me dói. é minha ferida que vive. o futuro que jurei que teria e nunca terei. tudo isso me transborda fervendo e escorre pelas minhas bochechas.
em minha mente faço um carinho em tudo que senti, em tudo que acreditei, nas memórias em que eu era repleta de alegria ao seu lado. depois, eu as tiro de vista, porque também lembro de mim despedaçada, traída e abandonada sem ao menos uma justificativa.
me recuso a ser fraca, me recuso também a negar minhas vulnerabilidades, mas elas não vão me derrubar. ainda estou viva, ainda sou uma pessoa. ainda tenho direito de escolha e eu vou aprender a escolher. a me escolher. a escolher me amar em vez de amar você.
você fez sua escolha por você. mereço fazer a minha por mim. você me enganou muito bem e eu fui a sua maior cúmplice por tanto tempo. se me dói lembrar do que posso estar perdendo, me lembro também de a que custo eu manteria isso. no fim, seria realmente o que me faria feliz?
seu “amor” é um belíssimo show de ilusionismo. é acreditar que o Mágico de Oz vai te dar o maior desejo de seu coração, quando na realidade o Mágico não tem magia nenhuma. seu amor são fogos de artifício, balas de festim. você sabe o quanto eu quero ouvir que você sente minha falta e antes isso bastaria. eu acreditaria com medo, mas esperançosa. pensaria *ele sente o mesmo que eu* e te daria tudo de novo sem nem piscar.
mas o que restaria de mim quando acabasse? você é um ator itinerante que partiria uma hora ou outra para um novo show. enquanto eu ficaria aqui me perguntando para onde foi aquela história linda que eu estava vivendo, aonde está o amor em que me apoiava com tanta força e carinho? se foi. agora, caio em queda livre.
imploro que vá embora, para bem longe, tão longe que eu esqueça quantas coisas lindas eu senti por você. o quanto elas pareceram sujas depois da sua traição. o quanto isso ainda me dói, o quanto ainda me confunde. rezo para os deuses que nos soprem para direções diferentes, porque sei que florescerei em outro lugar.
• meus agradecimentos para quem leu até o final e lembrem-se de se amar primeiro
Maravilhoso. Mesmo. Impressionante a quantidade de talento que o Substack revela. Em particular, esse trecho foi impecável: "[um jardim] repleto de flores como o meu costumava ser, você começou a visitá-lo antes de me deixar, porque você não gosta de perder. apenas trocar." Brilhante.